Outro
dia recebi uma mensagem de uma grande amiga-irmã, professora, pedindo meu auxílio
para seu projeto de desenvolvimento de uma sala do conhecimento na escola. A
mensagem dizia o seguinte:
Te mandei um email sobre uma sala
do conhecimento. Sei que vc é contra o conhecimento. Tá em toda parte e tal,
mas se tiver alguma coisa, me ajuda vai!
Por
alguns segundos, fiquei a me perguntar se ela realmente achava que eu era
contra o conhecimento ou se estava só me dando aquela sacaneada devido às nossas
meia dúzia de divergências em relação ao processo educacional.
Concluí
que era sacanagem. Mas, quando percebi, a questão já tinha grudado na cabeça: Sou
contra o conhecimento? Qual é o tipo de conhecimento em que, realmente, eu
acredito?
E
comecei a fazer uma viagem ao longo de todo meu processo de busca de
conhecimento, passando pela forma(ta)ção acadêmica até o dia de hoje, momento
da vida em que creio que a Filosofia mais bela se faz no interior do próprio
homem.
De
fato, não acredito em acúmulo de informação como conhecimento. Conhecer não é
um ato de consumo. Conhecer é relacionar-se. Relacionar-se com o outro e
consigo mesmo antes de tudo.
Por
isso, sempre digo aos meus alunos que meu trabalho é uma fraude. Não existe
professor de filosofia. A Filosofia não pode ser ensinada. Não é um conteúdo.
Ela deve ser vivida, experimentada e saboreada na descoberta de si mesmo e do
mundo.
A
Filosofia é um processo iniciático. Na Grécia Antiga, os aristocratas
entregavam seus filhos para serem educados pelos filósofos. E, nesse caso, o
filósofo não era, certamente, um professor que lecionava mais uma matéria
aleatória. Era um mestre que tinha como missão orientar seus discípulos na
busca pelo conhecimento em diversas áreas da vida, sendo responsável, em muitos
casos, inclusive, pela iniciação sexual de seus discípulos – a famosa prática
da paiderastia grega.
E
lançar-se na jornada do conhecimento é, sempre, um caminho sem volta. Se, por
um lado, acumular informação, cultura – em termos estritos – e erudição não tem
o poder de, num sentido mais substancial, mudar a vida de alguém, por outro, o
conhecimento que brota de dentro transforma profundamente o ser. É a nossa Luz
mais brilhante, que clareia nossa estrada e aponta novos caminhos.
Por
isso, hoje, creio que a real Filosofia – aquela que está conectada com o fluxo
do universo e da vida – nada mais é do que o processo de tomada de consciência
da realidade pelo homem em sua experiência humana. E pasme! É possível tomar
consciência do real sem nunca ter lido uma linha de Kant ou Hegel! Aliás, pelo
caminho, já encontrei muito filósofo analfabeto e iletrado. Agricultores,
jardineiros, mendigos, bêbados, traficantes e muitos outros seres que receberam
a picada do vagalume e nunca mais deixaram de buscar a luz.
Gratidão,
Luisa, pela mensagem. Por ter me proporcionado olhar de maneira ampliada o que
a Filosofia representa na minha vida enquanto buscador e, sobretudo, a enorme
responsabilidade que, enquanto filósofo, sobre mim recai no compartilhar da
existência.
Te
amo!

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