Não há cura sem
procura. Aliás, se pararmos para observar com atenção essas duas palavras,
veremos que elas têm uma relação muito mais profunda do que sua mera semelhança
fonética.
Quando lidamos conosco nos níveis mais profundos da nossa
alma – no âmbito do Ser –, a busca que empreendemos não é uma busca qualquer. O
Ser que se lança na procura de si mesmo não é, por exemplo, como o indivíduo
que se põe a procurar por algo no caderno dos classificados. Enquanto este
último deseja e, em parte, depende de algo que lhe é exterior, o primeiro,
tendo tudo aquilo de que precisa, procura por algo que já tem. Sua demanda,
portanto, não é uma demanda real, mas nasce de uma percepção pouco clara da própria
realidade. É fruto de um olhar estreito.
Por isso, podemos compreender essa procura do homem por
si mesmo como seu próprio caminho de cura. A cura desse olhar turvo que nos
impede de visualizar todas as cores do nosso arco-íris de realidade. Um
movimento que, ao lançar-nos para fora numa força existencial centrífuga, levando-nos
ao encontro do mundo e do outro, paradoxalmente, acaba por arremessar-nos de
volta para as regiões mais recônditas de nós mesmos, embalando-nos numa outra
força existencial – agora centrípeta! –, que se apresenta em sentido contrário
e possui igual ou – muitas vezes – maior intensidade que a primeira.
E,
obviamente, esse processo de cura fundamental pelo qual todos nós – conscientes
ou não – passamos, fala muito, também, não apenas dessas curas mais profundas
que ocorrem no nível do nosso Ser, mas de todas as curas que experimentamos –
ou não! – na materialidade do mundo manifesto.
Toda
cura que experimentamos, experimentamos por graça. Cura é dom. Um
transbordamento de vida que acontece sempre que tocamos a Lei maior que rege o cosmos, do qual somos parte. Contudo,
apesar de ser um dom gratuito, temos também a clara percepção do outro lado da
moeda: a cura faz também suas exigências. Aliás, a exigência é uma só: a pró-cura.
Para
sermos curados é necessário que tenhamos, antes de qualquer coisa, uma atitude
de pró-cura diante da vida. Algumas passagens das escrituras nos falam a esse
respeito. “Buscar-me-eis, e me achareis,
quando me buscardes de todo o vosso coração.”, profetizou Jeremias, em nome
de Deus, ao povo de Israel. Séculos depois, andando pela Galiléia, Jesus deixou
a mesma mensagem: “Pelo que eu vos digo: Pedi,
e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; pois todo o que
pede, recebe; e quem busca acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á.”. Ou, se
preferirmos um português mais claro e um discurso menos religioso, fiquemos com
a boa e velha sabedoria popular: quem procura acha!
O
fato é que a cura não é algo que uma pessoa possa fazer por outra. Não, pelo
menos, sem que, antes, a pessoa faça por si mesma. É necessário um movimento de
saída de si. Uma abertura. Não raras vezes, ao ser agradecido pelos milagres
operados, a resposta de Jesus – em sua grosseria santa – àqueles
que se prostravam diante dele era sempre a mesma: a tua fé te curou/salvou.
Com
isso, entretanto, não estou afirmando que quem, porventura, esteja padecendo de
alguma doença ou sofrimento de qualquer natureza, e ainda não foi curado, não o
foi por falta de fé, de merecimento ou qualquer outra afirmação cruel desse
tipo.
É
preciso termos em mente que a cura é uma ação do Ser na sua relação com a existência. E como todo ato que se realiza no
tempo, é um ato que está sempre no gerúndio. É um processo. Uma dinâmica
existencial onde o mais precioso está para muito além da supressão de sintomas
dolorosos que nos afligem. Está na reconexão que o indivíduo consegue
estabelecer com o seu próprio poder pessoal. Em outras palavras, no reencontro
do Ser com sua imagem e semelhança de Deus. Nesse contexto, a permanência de
dores ou sofrimentos no caminho do pró-curador, muitas vezes, é, também,
expressão da mesma graça de onde se origina toda cura.
Portanto,
se ainda caminhamos por essas bandas dimensionais é porque estamos – todos – em
nossos caminhos de cura. Num sentido mais amplo, poderia, inclusive, afirmar
que existir – na Terra, pelo menos! – é, basicamente, curar-se. E a boa nova é
que nada disso fala de uma meta, ou qualquer ponto fora de nós que devamos
alcançar. Nós somos o caminho. Essa linda estrada onde a pró-cura simplifica-se
a tal ponto, que, deixando pra trás toda percepção de falta, transforma-se – de
maneira muito natural – em sua variante mais sublime e singela: a própria cura.
Assim,
a todos aqueles que, como pró-curadores, se entregaram à assombrosa e deliciosa
experiência da vida como caminho, uma ótima notícia: não temos para onde correr.
Caminhemos e curemo-nos!

Nenhum comentário:
Postar um comentário